Vaticano II, grande evento da Igreja
O anuncio do Concilio pelo idoso Papa João XXIII, dito “Papa de transição” fez nascer uma grande esperança. Bispos, padres, teólogos, religiosos, leigos engajados preparavam o evento, muitas vezes no silêncio e às vezes na perseguição.
1962 foi para mim o ano da minha entrada no Noviciado, mas foi depois que tomei consciência das mudanças trazidas pelo Concílio. Uma das primeiras mudanças mais visíveis foi a possibilidade de celebrar a liturgia na língua do país e de deixar o latim para especialistas. O padre da minha paróquia que celebrava já em francês nos Campos de férias de jovens e com certos grupos escreveu-me: “Agora é autorizado”. Durante o tempo de formação dentro da Congregação e hoje ainda vou descobrindo melhor que o carisma dos I.M.C. é muito próximo de certos textos do Concílio. Tudo isso estava fervendo nas bases. Estudando os documentos ou decretos eu senti fortemente isso. A relação com as outras Igrejas, o diálogo com as pessoas de boa vontade mudaram totalmente. Nunca estudaremos bastante as consequências do Concílio.
A Igreja passava da dimensão vertical, piramidal à uma dimensão “Povo de Deus” : todos iguais pelo batismo, discípulos e missionários, apenas diferentes nos serviços da Igreja. A vida religiosa saiu dos grandes conventos e foi em pequenas comunidades inseridas nas periferias, nos bairros populares, no meio rural... As CEBs também frutificaram. “Lumen Gentium”, “Gaudium et Spes”, “Ad Gentes” são tantas fontes inspiradores destas iniciativas missionárias.
Para nós Irmãos, desde a fundação já havia esta preocupação de presença aos mais pobres e aos que a Igreja tinha dificuldade de encontrar. Foi neste espírito que muitos irmãos tiveram uma inserção no meio profissional. Pessoalmente trabalhei 40 anos como trabalhador rural. Foi para mim um tempo muito forte no qual recebi muito e dei um pouco. Existiam grupos de reflexão e partilha entre Padres, Religiosos (as) inseridos no trabalho assalariado.
E hoje? 50 anos depois. Eu podia ter certa dose de inquietação ou cepticismo. Mas não! Este ano participei a dois eventos que reanimaram fortemente a minha esperança. O primeiro foi a Romaria em Santa Fé com 400 missionários (as) das escolas fundadas pelo Pe José Comblin. Foi um tempo forte de vida em Igreja, uma vida animada principalmente pelos leigos, apoiados por alguns bispos e religiosos (as).“A esperança dos Pobres vive e viverá” tal era o lema. Eu senti o sopro de Vaticano II animar esta Assembleia. A minha surpresa foi a ausência dos Padres ! O segundo evento foi o encontro de “Pequenas Comunidades inseridas” em Caruaru (PE). Fiquei alegre de ver que algumas Irmãs, bem novas, aderiam a esta proposta de presença com os mais pobres. Fico questionado: como os jovens Seminaristas e Religiosos de 2013 veem esta dimensão de presença ao mundo? É preciso, mais do que há 50 anos, procurar os sinais da presença do nosso Deus no mundo.
Não há tempo para as lamentações, mas sim para a contemplação.
Ir. Pierre-Marc Tremeau